De uns tempos pra cá, uma onda saudosista invadiu o mundo das camisas de futebol: são as famosas camisas "retrô". Camisas que marcaram época ou que vestiram equipes na conquista dos seus principais títulos são relançadas nos dias atuais, ora mantendo a mesma qualidade do material da época, ora modernizadas com a tecnologia atual mas com os traços que lhe fizeram famosas Brasil (ou mundo) afora.
Eu, por exemplo, tenho visto uma série de lançamentos dessas camisas chamadas "retrô" de diversos times do Brasil e do exterior. Algumas são verdadeiras pérolas, como a do Liverpool, que vi na Centauro este fim de semana. A coleção do Internacional-RS , assim como a do São Paulo, ambas da Reebok, está tão linda, que nao ficaria feio usá-la para ir a uma festa (percebam na camisa do São Paulo o esmero no tecido amarelado, pra dar um aspecto "envelhecido", deixando-a mais paracida com a da época).
O Bahia, é claro, não poderia ficar fora dessa moda. Começou extra-oficialmente com uma ou outra confecção independente fazendo camisas por conta própria, à revelia do clube (exemplos aqui e aqui ), algumas delas tão mal feitas que em quase nada lembram as camisas aludidas (percebam nos links anteriores o logo da Adidas em azul, sendo que na época era vermelho). Depois de algum tempo, o time se rendeu ao modismo e lançou recentemente sua coleção retrô. Nada melhor, então, que comemorar os títulos de 59 e 88. Pra começar, fizeram campanha no site do tricolor pedindo que os torcedores cedessem camisas da época para servirem de modelo. Como assim? O Bahia não tem camisas da época no seu acervo? Não há fotografias da época para que se copie o modelo? Péssimo começo. Depois de muita demora, saem as duas camisas quase simultaneamente e... decepção!!! Pra começar, falarei da mais "defeituosa": a de 88. Imperdoável o fato de estaparem uma estrela sobre o escudo. Gostaria que alguém me dissesse quando foi que o Bahia jogou com uniforme com uma estrela no peito. O título da Taça Brasil de 59 passou a ser aludido na camisa somente após a conquista do Brasileirão de 88, quando passaram a estampar DUAS estrelas. Nem a CBF reconhece esses títulos da Taça Brasil como equivalentes ao Campeonato Brasileiro, o que eu acho um equívoco, pois esse era o campeonato mais importante da época e classificava para a Libertadores... Mas essa é outra discussão. Outra coisa: a camisa da época era da Adidas. Se não pode se fazer um acordo para que esta fabrique a camisa retrô da marca, se não dá para colocar as três listras características da marca, então não coloque nenhuma. Agora, colocar duas listras? A emenda saiu pior que o soneto... Para concluir, cadê o Coca-Cola? O Bahia de 88 usou a marca em todas as partidas. Também não gosto de nomes enormes no meio da camisa do meu time, mas já que tinha na época, porque não colocar agora??? A camisa do Liverpool, a qual me referi no começo do post, tem o patrocínio da época e não o atual. Perfeita. O Palmeiras, pra citar um exemplo doméstico, também lançou recentemente sua camisa retrô e fez uso do antigo patrocinador da época. O Bahia não poderia fazer o mesmo???
Com relação a de 1959, poucos defeitos perceptíveis. Essa, só vi em foto, mas já dá para perceber duas falhas: primeiramente, a gola, que nessa reedição virou polo. Não era assim na época. Era em "V", com gola pontuda e grande para os padrões de hoje. Mas, se vamos reeditar a daquele tempo, tentemos fazer o mais próximo possivel. A segunda falha: o Bahia não usava escudo naquela época!!! Porque a retrô tem escudo??? Aliás, em 1959 e até algum tempo depois, o uniforme do Bahia era camisa branca ou tricolor, calção azul com faixa de tecido amarrada ou costurada na cintura e meião CINZA. Isso mesmo, cinza...
Ademais, é o seguinte: o tecido é bacana (a de 59, inclusive, parece "lavada", para dar impressão de desgaste do material), parecido com o da época mas com acabamento bem mais caprichado. A intenção vale bastante, já que o Bahia tem que lançar mão de tudo que for possível para vender sua marca e lucrar com isso. Só falta ter voz um pouco mais ativa nessas "jogadas" de marketing para que seus símbolos e sua história não sejam maltratados pela modernidade.
(Texto com a colaboração de Arilde Junior)
Camisa retrô de 88: uma estrela? Duas listras? Deprimente.
Camisa retrô 59: a original não tinha escudo e a gola era maior